Quando o
site da revista "Scientific American" discorre sobre os avanços da
inteligência artificial nos últimos 50 anos, destaca dois supercomputadores da
IBM --o Deep Blue (que ganhou um torneio contra um campeão de xadrez) e o
Watson (que ganhou um game show de conhecimentos gerais)--, mas também fala de
uma empresa israelense desconhecida, a Mobileye. O poder desta última se
concentra em um chip de apenas um centímetro quadrado chamado EyeO. O algoritmo
do chip é capaz de interpretar em tempo real tudo que uma câmera simples
instalada em automóvel captura, para evitar acidentes ou reduzir seu impacto.
A fim de
comprovar seu funcionamento, saí para um passeio com Ofir Atia, engenheiro da
empresa. O passeio mostrou que a câmera detecta os veículos próximos, e o EyeO
calcula a velocidade relativa do mais próximo com relação ao carro em que está
instalado, prevenindo com um alarme sonoro se a distância se reduzir demais.
Caso o motorista não use o volante para corrigir o problema, o sistema aciona
os freios. A câmera também identifica os pedestres nas calçadas, e freia
automaticamente caso atravessem a rua, a fim de evitar um acidente, ou para
mitigar o impacto de uma colisão, se a velocidade estiver alta demais.
Capaz de
executar diversas tarefas simultaneamente, ao contrário dos homens (melhor não
me referir às mulheres...), o sistema lê sinais de trânsito e aponta o limite
de velocidade. Alerta quando o motorista muda de pista sem acionar o
pisca-pisca. De noite, alterna automaticamente entre farol alto e farol baixo a
depender do trânsito encontrado.
A câmara
"observa tudo", o chip analisa o que a lente registra e dá instruções
aos acionadores (actuators), que disparam alertas, apertam cintos de segurança
ou acionam freios. O resultado final é uma contribuição forte para o que os
especialistas designam "manejo autônomo", quando o automóvel já não
precisará de nós.
Amnon
Shashua, co-fundador da Mobileye, é professor de visão computadorizada e de
aprendizagem mecânica (machine learning) na Universidade Hebraica de Jerusalém.
Contou-me que, desde 1999 --quando sua empresa foi criada-- já previa que um
dia seria possível garantir a segurança de um veículo por meio de uma única
câmera --"pelo mesmo motivo que uma pessoa não fica cega se fechar apenas
um olho"--, quando todo mundo mais estava convencido de que seriam
necessárias pelo menos duas (o que custaria bem mais caro).
A
tecnologia da Mobileye já está em uso em alguns modelos da GM, BMW e Volvo, e
está disponível como opcional em carros da Citroën e Honda, entre outros. Até
setembro, um milhão de veículos equipados com o sistema estarão circulando.
Shashua
também conta com o interesse das autoridades norte-americanas e europeus que
defendem a adoção de dispositivos de assistência a motoristas. O preço atual do
sistema completo, US$ 150, já está bem próximo da cifra mágica dos US$ 100, a
partir da qual os fabricantes podem passar a considerar sua integração como
item de série.
O sistema
da Mobileye recentemente foi incluído na lista dos 45 inventos israelenses mais
importantes. Shashua me contou que "eu sabia [desde 1999] que ele poderia
funcionar, mas não no ambiente universitário". Por isso, criou uma companhia
para atrair os fundos necessários, com a ajuda do Yissum, o fundo de
investimento da Universidade Hebraica, que ficou com uma participação em seu
capital. Os negócios vão bem e a empresa pode em breve atingir valor de mercado
de US$ 1 bilhão, de acordo com o site israelense Ynetnews.com.
Shashua
está convencido de que, afora o Vale do Silício, o único lugar onde surge
inovação é Israel. "É parte de nosso ADN como nação", ele afirma,
"diferente do que acontece na Europa ou Índia. Temos os algoritmos mais
avançados. Na informática, Israel é um império".
Fonte: Folha.com
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