O Estado de
Israel localiza-se no continente asiático, em uma região conhecida desde o
princípio do século XX como Oriente Médio 1. Localizada a não muitos
quilômetros da Europa e da África, o pequeno país de 22.072 km² 2 acaba por ser influenciado
climaticamente por três continentes e possui uma variedade de vegetação e clima
desproporcionalmente abrangente para seu tamanho. Podemos chegar a ver neve em
Jerusalém, que se localiza a pouquíssimos quilômetros do Deserto de Judá, onde
a temperatura chega a 45º no verão. Pouco mais de 200 km separam o Lago Kineret
(ou Mar da Galileia), onde chega a chover 28 dias por mês durante o inverno, do
seco Deserto do Neguev. Por falar em Neguev, o que dizer de Mitzpe Ramon,
localizado no coração do deserto onde esporadicamente neva no inverno? A
geografia de Israel é complexa como o mosaico cultural do país: há de tudo, e
tudo está misturado. Falaremos um pouco sobre isso, então.
Não sou
geógrafo, mas me recordo um pouco das minhas aulas de geografia dos ensinos
fundamental e médio. O clima em Israel é temperado mediterrânico. O clima
temperado se caracteriza por ter as quatro estações do ano bem definidas. O
clima mediterrânico tem como marca os verões extremamente secos e os invernos
chuvosos, ao contrário do que acontece na maior parte do mundo. Isto se dá
porque os ventos quentes do Saara empurram as nuvens do Mediterrâneo para longe
da costa, impossibilitando as chuvas de verão. Ou seja: além de não chover
durante todo o verão, os ventos (sobretudo no deserto e na orla) são quentes. E
durante o inverno, que raramente chega a ter temperaturas negativas, a sensação
térmica diminui em dias chuvosos e ventosos. Primavera e outono são os meses
mais agradáveis, com temperaturas amenas, chuvas esporádicas e dias
ensolarados. Evidentemente que quanto mais se aproxima do verão, mais quente é
o primavera, assim como seu princípio é mais frio e chuvoso por começar logo
que termina o inverno. O mesmo acontece com a outono nos períodos próximos às
estações mais extremas.
Nada do que
foi escrito até agora é estranho para alguém que já foi a Península Ibérica,
sul de Itália ou França, litoral norte da África, Bálcãs, Turquia ou outros
países litorâneos situados após o Estreito de Gibraltar. O que há de especial
em Israel são as grandes diferenças climáticas existentes dentro de um país tão
pequeno. Darei aqui, então, minha narrativa pessoal sobre as condições
climáticas do país onde vivo.
Nascido e
criado no Rio de Janeiro, a umidade e o calor não são novidade na minha vida.
Como boa parte dos cariocas presunçosos, eu nunca imaginei que seria difícil
para alguém como eu acostumar-me com o calor em nenhuma parte do mundo. Ledo
engano. O calor do verão israelense beira o insuportável! A temperatura máxima
na maior parte habitada do país raramente ultrapassa os 33º, mas a violência
com a qual o sol toca a superfície, aliada aos ventos quentes, comuns em quase
todo o território, faz com que a sensação térmica chegue aos 40º facilmente. A
diferença em relação ao Brasil é o que eu chamo ironicamente de falta de
esperança: não há a mais remota chance de que chova após o dia 15 de junho. Não
há frente fria. Não há queda brusca de temperatura. São pelo menos 90 dias de
calor insuportável. E pode piorar: há algo em Israel chamado sharav: ondas de
calor vindas do deserto do Saara, que elevam de 2 a 5º a temperatura, fazendo
qualquer carioca malandro pedir arrego. Voltaremos a ele mais tarde.
Evidentemente
o calor não é igual em todas as regiões. Em cidades mais altas como Jerusalém,
Safed ou no Golã, há ventos frescos durante o verão. O sol é acachapante como
em qualquer lugar, mas as sombras e as noites são bem mais agradáveis. A região
chamada de “Centro” (litoral oeste e sua periferia), que envolve Tel-Aviv, é
caracterizada pela umidade. Durante os três meses do verão não há vento fresco.
As noites são quentes e o suor é inevitável. A maioria dos israelenses detesta
a umidade. Eu hoje também a detesto: clima úmido e calor atuando juntos são
agradáveis somente quando há chuvas torrenciais equilibrando a temperatura. O
Neguev, por incrível que pareça, pode ser menos radical: o clima é seco, a
umidade do ar pode chegar aos 5% durante o verão. A temperatura tem máximas de
mais de 40º, e o sol junto ao vento quente tornam o clima pesado para respirar.
No entanto, as sombras e a noite são muito mais amenas que o litoral. Fugir do
sol é uma boa dica. O Deserto do Neguev, no entanto, não é a região mais quente
do país. Há outros dois desertos em Israel: o Deserto de Judá (que abarca
também parte da Cisjordânia), onde se localizam o Mar Morto e a antiga
fortaleza de Massada e o deserto de Arava, no extremo sul do país, chegando até
o Mar Vermelho (onde se localiza o balneário de Eilat). Por lá o clima seco não
ajuda a amenizar o clima nem à noite, e a temperatura pode chegar aos 46º. E a
região do Mar da Galileia, segundo a Wikipedia, registrou a maior temperatura
da história do país 3:
53,9º em 1942. A região é úmida e quente. Em outras palavras: junta o que há de
pior do verão em cada região do país.
Meu texto
pode parecer um desabafo, mas, acredite, os israelenses em sua maioria adoram o
verão. Pode ser que haja alguma influência da infância, já que é justamente no
verão que ocorrem as “longas férias”. Mas boa parte dos israelenses lota as
praias do país: de Ashkelon a Naharia, todas as praias estão abarrotadas de
junho a setembro. Eilat, com seus 46º, é uma loucura! Famílias, soldados de
férias, jovens, idosos e turistas estrangeiros de todas as idades entopem a
cidade e divertem-se torrando suas peles. Explicável? Sim, para mim, sim.
Nunca vivi
na região sul do Brasil, mas sei que o inverno por lá é bem mais rigoroso e
longo comparado ao resto do país. Em Israel é assim, também. Eu, judeu
ashkenazi, normalmente não sofro com o frio. Me agasalho bem e caminho pelas
ruas de Tel-Aviv ou até mesmo de Jerusalém sem reclamar. Aos poucos o corpo se
acostuma. Mas é de fato desagradável saber que a calça comprida me acompanhará
invariavelmente todos os dias durante quatro ou cinco meses. Assim é o inverno
aqui: longo, como é na Europa. Um pouco mais ameno do que na maioria dos países
do velho mundo. Mas nem tanto.
A região do
Centro é bem mais amena. No início do século XX ainda nevava em Tel-Aviv.
Amigos meus juram ter presenciado neve na cidade de Kfar Saba (a 30 minutos de
Tel-Aviv) nos anos 1990. Pode ser. Mas hoje, se a temperatura na região chega
aos 5º, certamente será o dia mais frio do ano. O inverno no litoral israelense
é um pouco mais frio e bem mais chuvoso do que o inverno paulistano.. A
temperatura varia dos 6 aos 15º, em geral. Ninguém veste ciroulas, mas muitos
telavivim 4
logo nos primeiros meses da estação, aproveitam a primeira brisa fresca e tiram
dos seus armários seus sobretudos comprados em Paris para desfilar pelas ruas
na moda do inverno. Dizem ser mais elegante, não sei. De moda eu não entendo
muito.
Em
Jerusalém isto é justificável. No fim de agosto as noites na cidade (e nos
arredores, como na cidadezinha onde eu vivo) já são frias a ponto de exigir um
suéter ou algo do gênero. No fim de setembro as noites já estarão frias.
Outubro é como Tel-Aviv em janeiro. Novembro já não se vê mais ninguém com as
pernas de fora. E de dezembro a março, o frio é intenso. A temperatura quase
nunca chega aos negativos, mas a sensação térmica, sim. O vento é uma
característica marcante da região, composta por montes e vales.
Russos-israelenses já me disseram que não passavam tanto frio nos seus países
de origem. Exageros à parte, o visitante ou o novato não podem deixar-se enganar
pelos números: a temperatura não representa a sensação térmica nem no inverno,
nem no verão. Esta é uma máxima sobre o clima israelense.
O país
inteiro é frio. Haifa é fria. A Galileia é fria. O Neguev é frio. E o Golã é
estupidamente frio. Em Jerusalém a neve pode aparecer de surpresa, mas
igualmente pode não dar as caras. No Golã há neve em todos os anos. Às vezes
mais, às vezes menos, mas há. E há muita chuva. Mais do que no Centro. O norte
do país, em 2012, registrou um mês de janeiro com 28 dias de chuvas. A
quantidade de água que caiu, no entanto, não foi suficiente para encher o Mar
da Galileia, que, curiosamente, necessitou de pouco menos de 10 dias em janeiro
de 2013 para, depois de 10 anos, finalmente ultrapassar a linha vermelha 5 que tristemente o caracterizava.
Frio com chuvas é como se sente o inverno aqui. No deserto, obviamente, se
chove pouco, mas pode haver até mesmo tempestades, que, mescladas com areia
representam um perigo aos motoristas que encontram-se nas estradas sulistas.
Com exceção de Eilat e do Mar Morto, durante o inverno, em nenhuma região do
país se vê gente caminhando com braços ou pernas de fora, e isto não tem
absolutamente nada a ver com a religiosidade do cidadão. Exceto, claro, quando
chega um sharav. As mesmas ondas de calor que às vezes aparecem durante o
verão, podem dar as caras no inverno e alegrar as pessoas. As temperaturas
sobem, de repente, aos 20, 22, 27, até 30º, tornando o clima agradável e às
vezes até enchendo as praias. O que é um pesadelo no verão, pode ser um sonho
no inverno! Eu costumo dizer que o sharav durante o inverno nos leva à
primavera. Se chega durante a primavera ou o outono, nos leva ao verão. E se
chega durante o verão, nos leva ao inferno. É mais ou menos por aí…
Se você
pensa em visitar Israel e não tolera o frio, pense bem antes de comprar a sua
passagem. Se seu problema for com o calor ou com o sol forte, não venha durante
o verão. A maior parte do ano, entretanto, registra temperaturas agradáveis: do
fim de março ao início de junho, assim como do meio de setembro ao fim de
novembro, na maior parte do país o clima estará ameno, possivelmente bom para
ir à praia, para caminhas, fazer trilhas e etc. As chuvas são escassas e as
roupas de frio podem ser leves. Isso, claro, se nenhum sharav chegar durante a
sua estadia. Mas são só três ou quatro dias. E se você for aventureiro(a), e
desejar conhecer um pouco dos extremos do país, desafie o verão e o inverno.
Não deixa de ser uma experiência. Só venha preparado, com roupas de frio ou
protetor solar. E beba água. Muita água.
Fonte:
Conexão Israel
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