Me lembro
perfeitamente de quando comecei meu caminho no mundo das artes e constantemente
ouvia sobre as infindáveis opções culturais nesse pequeno espaço de terra.
Entretenimento para todas as idades, línguas e “espécies”. Programações noite a
dentro (que realmente vão até o amanhecer), pequenas casas de shows, teatros
escondidos dentro de estação de ônibus (que lotam todas as noites), feiras de
arte, música e moda em todos os cantos.
Na cena
musical desde shows dos mais especiais como Madonna e Barbra Streisand, a
Orquestra Filarmônica de Israel conduzida por Zubin Mehta até festivais de
música electro-indie no deserto, que acontecem a 1 hora da cidade, e que nos
fazem sentir como se estivéssemos em um tipo Woodstock por algumas horas.
Encontros mais íntimos de cantores com seu fãs em pequenos bares nas ruas
conhecidas pela boemia da cidade como Bialik, Geula, Levontin 7 e a Ozen Bar,
bares em geral gerenciados por músicos de muito bom gosto, com espaço para
novos e talentosos músicos assim como tradicionais e nomeados como Beri
Sakharof, e que possuem programação muitas vezes do início da tarde até a manhã
do dia seguinte.
De vez em
quando comparo os dias e noites daqui com outras grandes cidades no mundo e me
dou conta da rapidez que os minutos passam e da intensidade feroz da vida em
Israel.
No mundo do
teatro, no qual adentrei não faz muito tempo, a novidade está no circuito
alternativo. Acredito que isso vem acontecendo em virtude do cansaço do público
frente aos antigos assuntos como judaísmo, holocausto, Tanach… O mundo do
teatro alternativo tem ganhado mais e mais espaço. A situação econômica dos
artistas frente aos grandes teatros como Habima (Teatro Nacional) e HaCameri
não tem sido simples e os mesmos tem aderido de forma massiva a casas como
Tzavta (Ibn Gvirol), Teatro HaSimta (em Yaffo) e Teatro Tmunah (no sul de Tel
Aviv), onde faço a curadoria e produção de arte da peça “חלום על נייר זכוכית”
(Chalom Al Niar Zchuchit), lenda urbana sobre sonhos e valores na sociedade
hoje. As obras nestas casas de teatro vem a ser mais ligadas com o cotidiano do
público e também dos atores. Obviamente com preços mais acessíveis, o que tem
lotado suas salas. Dessa forma Tel Aviv vem criando pequenos Sohos e bairros
como Florentin, Neve Tzedek e Yafo imitam a vida como a vida imita a arte.
O que
talvez faça uma grande diferença no espectro cultural do pais, principalmente
daqueles que vivem perto ou nos próprios centros urbanos, é a necessidade de
aprendizado e a importância que a arte-educação tem na sociedade. Cá entre nós
não se pode dizer que o israelense (e coloco dentro deste termo todos aqueles
que nasceram aqui ou imigraram jovens) é o supra sumo da cultura… No fim das
contas vivemos aqui numa miscelânea de identidades e na conhecida “cultura do
grito” (por que querendo ou não vivemos todos no Oriente Médio
acreditando que somos diferentes dos que nos rodeiam, mas isto é assunto para
outro momento), porém ainda me impressiono com a quantidade de famílias
inteiras que chegam aos museus na Noite Branca (noite em que a cidade está
repleta de eventos e os espaços culturais tem entrada franca) e em todo
decorrer do ano também. Um outro fator importante na observação das razões de
porque este meio é tão rico é o sucesso do termo arte-educação.
Um dos
melhores museus para exemplificar esta realidade é o Children’s Museum, onde
sou responsável pelo desenvolvimento de conteúdo e faço parte do grupo de
curadoria, que é localizado em Holon, a 20 minutos de Tel Aviv, cidade
conhecida hoje em dia como cidade da cultura e do esporte. O museu é vivenciado
de forma experiencial através de uma visita guiada com o objetivo que o
visitante rompa com conceitos pré-existentes frente a uma diferente realidade.
No museu
encontramos a exposição “Diálogo com o Escuro”, onde por uma hora o espectador
não vê absolutamente nada e tenta se colocar no lugar de um deficiente visual,
acontece o mesmo em “Convite ao Silêncio”, onde o público passeia no universo
de surdos via diversas atividades, “Diálogo com o Tempo”, onde nos colocamos no
lugar de um velho e por último “Na altura dos Olhos”, que traz artes para
crianças de forma muito mais acessível. Ou seja, famílias inteiras desde os 2
anos de idade até 120 passam o dia dentro do museu, que está sempre lotado,
principalmente na época de festas. Em Holon estão também o Museu de
Comics e o Museu de Design, o último conhecido mundialmente por sua
arquitetura. O Museu de Arte de Tel Aviv também possui um belo departamento de
educação, para todas as idades, munido de importantes profissionais das artes.
E por
último a obra prima: Israel Museum. Localizado em Jerusalém, além dos
pergaminhos do Mar Morto, toda a parte arqueológica e judaica é dono de um dos
acervos de artes visuais mais ricos que já tive a honra de presenciar. O museu
está entre os 10 maiores do mundo e talvez a parte mais especial do mesmo seja
o departamento jovem, o que faz o museu tão acessível e visitado. Esse departamento
funciona todos os dias, é subsidiado por diversos doadores e tem como objetivo
simplificar e aproximar o grande público às artes. Está constituído de
workshops, uma grande biblioteca de livros infanto-juvenis – a única do mundo
organizada alfabeticamente pelo nome do ilustrador e não do autor – e
exposições itinerantes de grandes nomes como Escher, Picasso e também de
estudantes. Eu diria que o ponto comum e especial entre todos os museus que
citei acima é o espaço que possuem para atividades didáticas, ou seja,
arte-educação e trabalho que fazem para aproximar o público em geral das artes.
Para
aqueles que seus parâmetros de tamanho são única e exclusivamente medidos a
metros realmente seu lugar não é por aqui. É possível que o Israelense se
orgulhe em dizer que Tel Aviv é uma pequena Nova Iorque, no entanto eu me
orgulho muito mais em dizer que ela é uma pequena megalópole, rica em
diversidade de pessoas ligadas pela sua cultura, que tem muito em comum com a
Big Apple porém cheia de charme encantos do Oriente Médio.
Fonte:
Conexão Israel
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