O governo
da China está aconselhando seus cidadãos a se vestirem com elegância quando vão
a cassinos, a aguardarem pacientemente em filas em museus e a não furtarem
coletes salva-vidas de aviões ou fazerem barulho quando comem macarrão.
Depois de
uma importante autoridade chinesa ter avisado que "comportamentos
incivilizados" no exterior estariam prejudicando a reputação do país, os
dirigentes responsáveis pelo setor de turismo decidiram lançar um manual
bastante detalhado, com 64 páginas.
O documento
orienta os turistas mais novatos, ajudando-os a evitar gafes em viagens para
outros países.
O aumento
considerável nas viagens de chineses ao exterior alegra empresários em todo o
mundo.
De acordo
com levantamento divulgado pela Organização Mundial de Turismo, o número de
turistas chineses que viajam para fora do país passou de 5 milhões, em 1997,
para cerca de 83 milhões no ano passado.
No entanto,
esse exército turístico provoca preocupações ao regime em Pequim em relação à
imagem da China no exterior.
O manual
foi lançado para coincidir com uma das semanas mais movimentadas do ano para o
turismo.
Os
conselhos que o documento oferece vão desde alguns legalmente justificados e
eminentemente sensatos -nada de andar de metrô sem pagar, por exemplo- até
outros desnecessariamente alarmistas ou simplesmente incompreensíveis.
O livro
avisa que uma mulher que anda pelas ruas da Espanha sem brincos será alvo de
zombaria, como se estivesse andando em público sem roupa.
Outra seção
recomenda que os turistas que visitam a Escócia evitem comprar suvenires feitos
de pedras.
Outros
pontos mencionados incluem não pedir carne de porco em países muçulmanos, não
palitar os dentes nem botar o dedo no nariz em locais públicos.
Ainda é
recomendado não deixar suas pegadas sobre vasos sanitários, refletindo o fato
de que alguns dos turistas estão mais acostumados a privadas em que o usuário
fica agachado.
Turistas de
outros países poderiam beneficiar-se de muitos dos conselhos, como o de não
jogar lixo no chão e não apontar para coisas com seus pés quando você estiver
na Tailândia.
INCÔMODO
Muitos na
China andam se angustiando com o mau comportamento de turistas dentro e fora do
país.
A mídia
estatal e os internautas condenaram as pessoas que assistiram a uma cerimônia
de hasteamento da bandeira na praça da Paz Celestial, em Pequim, por terem
deixado cinco toneladas de lixo. Era o Dia Nacional da China, em 1º de outubro,
quando o país celebrou 64 anos do regime comunista.
Houve
indignação popular este ano quando veio à tona que um garoto chinês de 15 anos
gravou seu nome num templo egípcio de mais de 3.500 anos.
"Os
chineses que vão ao exterior, não importa quem sejam, representam a imagem do
país", disse um viajante frequente, Li Gang, de Shenyang, que viaja de
férias ao exterior ao menos duas vezes por ano.
"Pessoalmente,
acho muito necessário divulgar essas normas. Em todo lugar para onde vou,
quando encontro alguns chineses, sempre reclamamos e temos vergonha do
comportamento incivilizado de outros chineses, especialmente nas viagens de
grupos", afirmou Li. Muitos desses novos-ricos chineses agem como se
fossem um Deus quando saem do país."
O conhecido
economista e cientista social Hu Xingdou disse que o efeito das novas normas
será superficial e que os comportamentos incivilizados são comuns porque a
moralidade dos cidadãos chineses diminuiu.
O uso da
força pelos privilegiados encorajou outros a se comportarem de modo semelhante,
opinou.
"Apenas
se as autoridades agirem com moralidade oficial é que a sociedade realmente
terá moralidade pública e turismo civilizado. Os chineses não têm consciência
de seus direitos e responsabilidades."
O livro
está sendo lançado em conjunto com uma nova lei que garante proteção adicional
a turistas, como por exemplo proibir empresas de oferecer viagens com custos
ocultos, como a exigência de fazer compras em determinadas lojas.
A China já
envia mensagens de texto a seus cidadãos quando eles saem do país, lembrando
que devem obedecer às leis locais e explicando como entrar em contato com a
embaixada chinesa, se for preciso.
Fonte:
Folha.com
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