Quando Luiz
Bassani, 58, vem a São Paulo, nem pisa o pé fora de Congonhas ou de Cumbica:
pega o primeiro voo para Florianópolis, onde vive.
Viajar
continua sendo o trabalho desse ex-piloto de avião: hoje, Luiz acompanha
pessoas que têm medo de voar --é um "personal flyer", misto de
terapeuta e tripulante particular.
Por US$ 250
a hora (R$ 575), mais passagem aérea, transporte, alimentação e hospedagem, se
necessário, ele explica ao fóbico tudo sobre o funcionamento de uma aeronave.
Luiz viaja
cerca de três vezes por mês. Voos internacionais, mais longos, são raros: três
vezes ao ano.
As dúvidas
comuns: barulhos que o avião faz ao decolar e pousar sempre assustam. Até sobre
a movimentação das aeromoças querem saber. "Já me perguntaram por que elas
entram no banheiro. É procedimento normal, para ver se tem papel", ri.
"Com informação, a pessoa perde o medo. Mas não sou psicólogo!",
ressalva.
Também dá
dicas para organizar documentos antes do embarque e usar meias Kendall que vão
até o joelho (e ajudam na circulação sanguínea).
IRADOS
Em 30 anos
como piloto da extinta Varig, Luiz conta que presenciou vários casos de
"ira aérea" --quem "surta" por medo, desconforto ou
estresse.
"Uma
vez, um passageiro insistia que o comissário havia olhado para a mulher dele.
Ficou até de cueca. Pegava uma faca, e eu tirava. Consegui fazer ele sentar de volta
na cadeira após uma hora e meia de conversa."
Luiz conta
que a tripulação aprendia uma tática para lidar com o viajante inconveniente:
deitá-lo no chão. "Ele era amarrado com cintos e ficava na mesma posição
até o fim do voo."
Desde 2004,
quando se aposentou, o ex-comandante divide sua rotina entre palestras sobre o
medo de voar e a produção de livros como "O Mundo do Avião" (Editora
Globo, R$ 29).
Até surgir
a proposta de ser "personal flyer". "Uma pessoa que estava numa
das minhas palestras deu a ideia."
O serviço
cresceu no boca a boca e, a depender da demanda, talvez Luiz pudesse viver da
profissão. Mas ele prefere não. "É um trabalho cansativo. Quero ajudar
quem realmente precisa", afirma. "Senão daqui a pouco vai ter um
monte de gente dizendo: 'Olha, eu só viajo com o meu 'personal flyer'. A ideia
não é essa."
Fonte: Folha.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário