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segunda-feira, 18 de novembro de 2013

Ex-comandante ganha US$ 250 por hora para viajar com fóbicos e servir de 'calmante' a eles


Quando Luiz Bassani, 58, vem a São Paulo, nem pisa o pé fora de Congonhas ou de Cumbica: pega o primeiro voo para Florianópolis, onde vive.

Viajar continua sendo o trabalho desse ex-piloto de avião: hoje, Luiz acompanha pessoas que têm medo de voar --é um "personal flyer", misto de terapeuta e tripulante particular.

Por US$ 250 a hora (R$ 575), mais passagem aérea, transporte, alimentação e hospedagem, se necessário, ele explica ao fóbico tudo sobre o funcionamento de uma aeronave.

Luiz viaja cerca de três vezes por mês. Voos internacionais, mais longos, são raros: três vezes ao ano.

As dúvidas comuns: barulhos que o avião faz ao decolar e pousar sempre assustam. Até sobre a movimentação das aeromoças querem saber. "Já me perguntaram por que elas entram no banheiro. É procedimento normal, para ver se tem papel", ri. "Com informação, a pessoa perde o medo. Mas não sou psicólogo!", ressalva.

Também dá dicas para organizar documentos antes do embarque e usar meias Kendall que vão até o joelho (e ajudam na circulação sanguínea).

IRADOS

Em 30 anos como piloto da extinta Varig, Luiz conta que presenciou vários casos de "ira aérea" --quem "surta" por medo, desconforto ou estresse.

"Uma vez, um passageiro insistia que o comissário havia olhado para a mulher dele. Ficou até de cueca. Pegava uma faca, e eu tirava. Consegui fazer ele sentar de volta na cadeira após uma hora e meia de conversa."

Luiz conta que a tripulação aprendia uma tática para lidar com o viajante inconveniente: deitá-lo no chão. "Ele era amarrado com cintos e ficava na mesma posição até o fim do voo."

Desde 2004, quando se aposentou, o ex-comandante divide sua rotina entre palestras sobre o medo de voar e a produção de livros como "O Mundo do Avião" (Editora Globo, R$ 29).

Até surgir a proposta de ser "personal flyer". "Uma pessoa que estava numa das minhas palestras deu a ideia."

O serviço cresceu no boca a boca e, a depender da demanda, talvez Luiz pudesse viver da profissão. Mas ele prefere não. "É um trabalho cansativo. Quero ajudar quem realmente precisa", afirma. "Senão daqui a pouco vai ter um monte de gente dizendo: 'Olha, eu só viajo com o meu 'personal flyer'. A ideia não é essa."

Fonte: Folha.com

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