Subir a bordo de um “navio do deserto” para um passeio de
camelo pelas montanhas rochosas de Wadi Rum, que tanto inspiram Lawrence da
Arábia, é a derradeira forma de observar esta vastidão única e fascinante, onde
o silêncio ainda existe.
Os nabateanos e seminómadas, dominaram desde o século IV
todas as principais rotas de comércio no sul do País, incluindo a que passava
por Wadi Rum na Jordânia, onde construíram os seus templos. O incenso e a mirra
da Arábia Félix (atualmente Iémen), o tecido púrpura da Fenícia e as
especiarias da Índia tornavam-os um dos grupos mais ricos do mundo. Hoje em
dia, os beduínos descendentes dos nabateanos são a espinha dorsal de Wadi Rum.
Os membros das tribos são, aliás, excelentes guias para qualquer aventura no
deserto, seja uma escalada, uma caminhadas ou passeios a camelo.
A tribo Howeitat detém o poder da popular aldeia de Rum e a
tribo Zweideh governa a aldeia vizinha de Disi, uma área mais tranquila e mais
selvagem para passear de camelo. A partir daqui, é possível ter acesso aos
vales e aos promontórios rochosos, ou jebels, a leste de Jabel Um Ishrin. Local
onde vastas regiões de deserto virgem dão lugar a penhascos elevados e a
pedregulhos gigantes.
No que diz respeito a má reputação, os camelos encontram-se
no topo da lista – é só perguntar a qualquer pessoa, até aos beduínos. Eles são
rabugentos, temperamentais e invocados, e além disso, não tem possuem qualquer
problema em cuspir contra alguém que os irrite. A boa notícia é que as suas
reputações são piores do que a realidade. Claro que os camelos não são os
animais mais felizes (a não ser que estejam comendo), mas também não vamos
acabar com a imagem dele.
Durante a primeira parte do passeio, ao passar pelas belas
planícies de Disi, em direção ao imponente Jebel Barrah, é bem possível que
você ainda esteja tentando encontrar uma posição confortável em cima da sela de
madeira, vagamente almofadada. Assim que o conseguir, poderá olhar para cima e
admirar as infinitas formações rochosas que rodeiam Jebel Um Anfus e Jebel Abu
Arshrasha. Ao se aproximar, parece que grande parte da rocha está derretendo,
como chocolate, sob o Sol incessante.
Recomenda-se partir bem cedo, pela manhã, se quiser fazer um
intervalo à sombra, durante o forte calor do meio dia. Além disso, assim, fica
com mais tempo para explorar as trilhas deserticas. O semi-escondido
desfiladeiro El Barrah é uma das paisagens mais espetaculares da região.
Encontra-se cercado por penhascos, enquanto se tenta torcer e espremer por
entre Jebel Barrah e Jebel Abu Judaidah. O passo suave, mas persistente, do
camelo leva-o por vales, desfiladeiros e dunas – é possível viajar mais 40 km
por dia montado num camelo.
Apesar de ser mais provável encontrar animais selvagens à
noite do que durante o dia, o deserto não é um local sem vida. Arbustos
esqueléticos de tamargueiras compõem grande parte da vegetação escassa que
cobre o solo dos vales e, bem lá no alto, as raízes entrelaçadas de zimbro
procuram lentamente qualquer humidade disponível. Se tiver muita sorte, pode
até vislumbrar a rara cabra montanhosa. Fora os seus companheiros, os únicos
seres humanos que poderá encontrar por lá são os ocasionais pastores beduínos
que conduzem os seus rebanhos de cabras. Raramente, poderá passar por um carro,
mas não serão vezes suficientes para se tornar incomodo.
Durante a noite, pode acampar numa tenda de pele de cabra e
desfrutar da hospitalidade pela qual os beduínos são famosos. Apesar do nascer
e do pôr-do-sol serem definitivamente espetaculares, é no espaço de cerca de
uma hora antes do Sol nascer ou depois de se pôr que a luz parece confundir-se
integralmente com os promontórios rochosos e com as dunas de Wadi Rum. É também
nessa altura que se geram memórias duradouras do silêncio do deserto – o
silêncio ensurdecedor de um local verdadeiramente selvagem.
Fonte:
Ecoviagem
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