Existe no mundo alguma cidade que
tenha 100% da água que usa reaproveitada? Existe. É Tel Aviv, em Israel. Toda
vez que alguém toma banho ou puxa a descarga na maior área metropolitana
daquele país, a água vai para um complexo de tratamento e é recuperada.
P
ara ser purificado, o esgoto é
bombeado para dentro da terra e novamente retirado, passando por tratamentos
físicos, químicos e biológicos na maior estação de tratamento do Oriente Médio,
o Shafdan.
Depois, a água percorre cerca de 100
km por dutos até o deserto de Neguev, onde irriga variadas plantações.
O sistema começou a ser instalado há
mais de 30 anos e permitiu “transferir grandes áreas agrícolas do congestionado
centro do país para a amplidão do Neguev”, orgulha-se a Mekorot, a companhia
nacional de água de Israel.
O Shafdan é um exemplo de como um
país que enfrenta escassez de água pode fazer melhor uso desse recurso.
E contempla uma outra questão
importante: o grande volume consumido pela agricultura - a ONU estima que 70%
da água usada pelo ser humano vai para irrigação.
A água é apenas um dos temas
discutidos na Rio+20, que aconteceu de 13 a 22 de junho, no Rio de Janeiro.
Um dos problemas sobre os quais os
diplomatas devem se debruçar é como ampliar o acesso aos recursos hídricos.
Desde 1990, segundo as Naçoes Unidas, cerca de 1,7 bilhão de pessoas passaram a
desfrutar de água potável, mas ainda há mais de 880 milhões no planeta que não
têm esse privilégio.
Para Paulo Canedo, professor do
Laboratório de Hidrologia da Coppe-UFRJ, um ponto crítico a ser enfrentado nos
próximos anos é o saneamento em países pobres. “O esgoto não tratado é o grande
inimigo. Talvez seja preciso fazer um grande fundo de saneamento”, diz.
O professor aponta que as nações mais
desenvolvidas são as que em média gastam mais água per capita, mas possuem
recursos para tratá-la: “Os países ricos são perdulários. Mas eles podem,
porque têm como sobreviver a esse modo de vida”.
% da população mundial
|
% dos recursos hídricos do planeta
(Fonte: ONU) |
|
América do
Sul
|
6%
|
26%
|
América do
Norte
|
8%
|
15%
|
Oceania
|
<1%
|
5%
|
Europa
|
13%
|
8%
|
Ásia
|
60%
|
36%
|
África
|
13%
|
11%
|
Por outro lado, os países europeus,
por exemplo, dependem de alimentos importados. Por isso, têm preocupação com a
escassez de água em lugares como a África. “A Europa não tem capacidade de
produzir todo seu alimento. Eles precisam do alimento do mundo. Se o mundo
sucumbir [por falta de água], eles vão morrer de fome.”
Outra dificuldade apontada pelo
especialista é o desequilíbrio regional dos recursos hídricos (veja na tabela
ao lado). A Ásia, por exemplo, que concentra mais de metade da população
mundial, detém pouco mais de um terço da água doce. A América do Sul, por sua
vez, é a que tem maior folga, com 6% da população mundial e 26% da água.
Mortes
A ONU estima que, em
média, 5 mil crianças morram por dia de doenças relacionadas à falta de água ou
saneamento básico no mundo.
Ao lado de investimentos pesados,
como os de Israel, que há mais de três décadas iniciou o projeto de
reaproveitamento do esgoto de Tel Aviv, a tecnologia também pode criar
alternativas para ampliar o acesso à água.
Um exemplo inusitado foi divulgado
recentemente: é um gerador eólico capaz de “produzir” até 1.200 litros de água
líquida por dia, da empresa francesa Eolewater. Trata-se de um catavento que
gera energia, acionando um sistema de refrigeração.
Resfriando o ar, o aparelho condensa
a umidade presente na atmosfera. Assim, é possível retirar água do ar em áreas
remotas, sem acesso a energia elétrica.
Um protótipo dessa máquina funciona
atualmente em Abu Dabi, nos Emirados Árabes, desde outubro, e consegue retirar
até 800 litros de água do ar por dia, mesmo estando numa região desértica.
Fonte: G1
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