O preço das
diárias de hotéis e das passagens aéreas para destinos nacionais tem
prejudicado o crescimento do turismo interno e a consolidação do Brasil como um
destino para turistas estrangeiros.
A avaliação
é do presidente do Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur), Flávio Dino,
após o anúncio do déficit recorde da conta turismo no mês passado, divulgado na
semana passada pelo Banco Central.
"Temos
que levar em conta que o turismo doméstico está muito caro. Conforme o próprio
IBGE já registrou, as passagens aéreas e as diárias de hotéis estão ficando
cada vez mais caras, o que é um problema para o crescimento do turismo interno
e internacional", afirmou Dino à Agência Brasil.
Segundo o
presidente da autarquia, vinculada ao Ministério do Turismo, e responsável por
promover o potencial turístico do Brasil, muitos brasileiros optam por viajar
para o exterior após pesquisar e concluírem que, em muitos casos, sai mais
barato do que visitar alguns dos destinos turísticos nacionais mais procurados.
Por outro
lado, muitos estrangeiros deixam de visitar o país devido aos preços. O que
resulta não apenas na maior evasão de divisas, mas também empregos que deixam
de ser criados.
"O
fato de mais brasileiros viajarem para o exterior deriva de uma série de
questões. Algumas são positivas, como a melhoria do poder aquisitivo. Outras
são problemáticas, como o fato concreto de que, muitas vezes, viajar para o
exterior é mais barato que viajar pelo Brasil", acrescentou.
"Na
medida em que um brasileiro que deseja viajar pelo país acaba sendo induzido,
pelos preços, a viajar para o exterior, ele está deixando de criar um emprego
no Brasil para criá-lo em outros lugares".
Segundo o
Banco Central, entre janeiro e novembro deste ano, as despesas de brasileiros
no exterior chegaram a US$ 20,244 bilhões e os estrangeiros gastaram US$ 6,082
bilhões no Brasil no mesmo período. Com isso, o saldo negativo da conta de
viagens (a diferença entre os gastos dos brasileiros no exterior e dos
estrangeiros no Brasil) ficou em US$ 14,162 bilhões, contra US$ 13,569 bilhões
em igual período do ano passado.
Somente em
novembro, o déficit ficou em US$ 1,287 bilhão, o maior para o período, já que
os brasileiros gastaram o total de US$ 1,81 bilhão - um recorde para o mês
desde que passou a ser registrado, em 1947 -, enquanto os estrangeiros deixaram
no Brasil US$ 532 milhões.
Dino
descartou que o governo adote medidas restritivas e defendeu a manutenção do
atual sistema de liberdade tarifária, mas deixou claro que o setor privado terá
que responder às medidas governamentais que beneficiam o setor aéreo e
hoteleiro, como a desoneração tributária e a redução da tarifa de energia
elétrica, que entrará em vigor em janeiro de 2013. Dino ainda apontou a
necessidade de maior concorrência como forma de garantir preços mais
acessíveis.
"Tanto
no setor aéreo, quanto na hotelaria, não é possível adotar o controle de
preços. Não temos que ter medidas restritivas, mas é dever do governo
acompanhar, fazer ponderações à iniciativa privada e buscar medidas para que
haja mais empresas competindo", declarou.
Ele
relativiza o argumento de que o fato de mais brasileiros terem passado a viajar
de avião ao longo da última década indique que as passagens não estariam tão
caras.
"O que
aumentou substantivamente foi o poder aquisitivo da população, beneficiada
também pela redução da taxa de juros. A grande demanda por passagens aéreas,
hoje, vem da chamada nova classe média. E neste momento de maior demanda,
precisamos de mais oferta, o que não vem ocorrendo. Podemos discutir como o
governo pode ajudar as empresas, mas é incompreensível que, neste cenário, com
voos lotados, as companhias estejam tendo prejuízos", concluiu Dino,
alertando para o fato de que, se a presente situação não se alterar durante os
grandes eventos esportivos dos próximos anos, quando terá uma grande exposição,
o país levará muito tempo para reparar a eventual imagem de ser um destino
turístico caro.
Fonte: Folha.com
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