É provável que o leitor
já tenha se tornado usuário do Waze, o aplicativo que usa recursos de
crowdsourcing para sugerir rotas e que tem ajudado muita gente a fugir dos
longos congestionamentos nas grandes cidades brasileiras. Mas o que o leitor
talvez não saiba é que o Waze, vendido em junho passado para o Google por US$
1,3 bilhão, é uma inovação criada por dois pesquisadores israelenses que
estavam insatisfeitos com as funcionalidades dos GPS tradicionais.
Segundo Ehud Shabtai,
fundador da Waze Ltd, o sistema GPS atual não aproveita as informações geradas
pelos próprios usuários, como as posições de radares de velocidade e de
acidentes rodoviários. Shabtai uniu-se ao analista de sistemas Amir Shinar e,
patrocinados por investimentos de US$ 68 milhões de americanos e israelenses,
os dois desenvolveram o sistema de navegação que incorpora dados de satélites e
informações fornecidas por usuários locais. Foi um sucesso. E a venda da Waze
Ltd para o Google transformou em milionários não apenas os dois fundadores, mas
também todos os cem funcionários da empresa. Eles receberam US$ 1,2 milhão
cada, a maior distribuição de bônus já feita por uma startup israelense.
A Waze, assim como
inúmeros outros casos similares, é apenas a ponta do iceberg da revolução não
tão silenciosa que vem tornando Israel um dos países mais inovadores do mundo.
O país ocupa a 14ª posição no Global Innovation Index, ranking de inovação
produzido a cada ano pela Organização Mundial de Propriedade Intelectual – o
Brasil está na posição 64. Israel também se caracteriza pelo percentual de
investimentos totais em P&D (4,4% do PIB; o Brasil investe 1,2%) e pelo
percentual desses investimentos realizados pelo setor privado (3,5% do PIB; o
Brasil aporta 0,4%).
Outros destaques são a
presença de investimentos de risco (0,4% do PIB – o número do Brasil está
abaixo de duas casas decimais); pela cooperação empresa/universidade (8º na
pesquisa de opinião; o Brasil está em 42º); e pelos investimentos em alianças e
joint ventures com objetivo de gerar inovações (0,1% do PIB, 9º no mundo; o
Brasil está abaixo de duas casas decimais em relação ao PIB e em 83º no mundo).
O resultado desses
fatores são os avanços conquistados por Israel na exportação de inovações e
conhecimentos para o mundo. Com 37,3% das exportações provenientes de softwares
e outros sistemas de informação e 17,7% das exportações líquidas de produtos
considerados de alta tecnologia, é o terceiro país do mundo no indicador envio
de conhecimento e tecnologia (o Brasil fica em 67º, com 1,4% das exportações
provenientes de TICs e 3,9% das exportações líquidas de produtos high-tech).
Dois outros exemplos de
como Israel está revolucionando o mundo da inovação:
Se o leitor está
chegando aos 40 anos de idade, provavelmente precisa de óculos para ler esta
coluna. A presbiopia, popularmente conhecida como “vista cansada”, é a anomalia
da visão que ocorre com o enrijecimento dos músculos ciliares e a incapacidade
do cérebro de processar a informação obtida. Atualmente, existem no mundo mais
de 1 bilhão de pessoas que usam óculos para compensar essa deficiência. Podemos
dizer que é um belo problema para pesquisadores e uma oportunidade fantástica
de inovação.
Uma empresa criada em
julho de 2013, a GlassesOff, tem como fundadores um empreendedor em série
israelense de 40 anos, Nimrod Madar, e um professor de neurociências da
Universidade de Tel Aviv, Uri Polat. Baseado nas pesquisas conduzidas em seu
laboratório de neurociências clínica e visual, o professor Polat constatou que
o cérebro humano funciona como os computadores, em que as imagens podem ser
representadas por códigos binários (sequências de 0s e 1s).
No cérebro, uma imagem é
formada por manchas que se diferem por características como frequência,
contrastes e orientação. Polat concluiu ainda que regiões do cérebro e seus
neurônios podem ser treinados para distinguir e interpretar diferentes borrões.
Esse é o principo para a criação do app GlassesOff. Usando técnicas de jogos, o
usuário treina o cérebro para interpretar as variações de formas compostas por
letras e palavras e, mesmo com deficiência na musculatura ciliar, consegue
entender (ler) e dar significado às imagens. É o fim dos óculos de leitura!
Com o potencial de
atingir milhões de usuários em poucos meses, as ações da GlassesOff, que foram
lançadas por US$ 1,25 em 2013, já chegaram a US$ 2,50 e são consideradas por
muitos analistas o maior potencial de investimento em 2014.
Os leitores interessados
podem buscar o aplicativo GlassesOff na Apple Store e começar a exercitar seu
cérebro e sua vista.
Com três universidades
incluídas na lista das 200 melhores instituições de ensino superior do mundo
(QS World University Ranking), Israel tem um modelo de transferência de
tecnologia e spin off de startups nas universidades e nos centros de pesquisas
bem mais liberal do que no Brasil. Os professores de instituições como a
Universidade de Tel Aviv são avaliados não apenas pela qualidade de suas
publicações, mas também pelo número de patentes e startups criadas.
Outro fenômeno que
caracteriza o ambiente de inovação e empreendedorismo de Israel é a orientação
para a cooperação com empresas privadas, nacionais e internacionais de
diferentes tamanhos. Com 42,8% da pesquisa patrocinada por empresas
estrangeiras, o país está em 8º no item cooperação empresa/universidade (o
Brasil está em 42º). A pesquisa é aberta e se caracteriza pela presença de
laboratórios privados nas principais universidades e centros de pesquisa do país.
A Intel, fundada em
1968, foi uma das pioneiras neste movimento. Em 1974, a empresa teve seu
primeiro centro internacional de desenvolvimento instalado em Haifa, no norte
de Israel, em colaboração com o Technion Institute of Technology, o responsável
por inovações significativas como os processadores 8088, i860, Pentium e
Centrino.
Esse ambiente de
cooperação e de transferência de conhecimento entre institutos de pesquisa e
empresas se dá também com o setor público e com as forças armadas. Com o
serviço militar obrigatório para rapazes e moças (3 e 2 anos, respectivamente)
e a permanência na reserva até os 40 anos, muitos desses jovens aproveitam sua
passagem pelas forças armadas para se formar e desenvolver ideias e
conhecimentos que serão utilizados no desenvolvimento de inovações e na criação
de empresas.
O exemplo mais citado
recentemente é o Viber, um sistema de voz sobre IP que foi vendido para uma
empresa japonesa por US$ 900 milhões. O fundador do Viber, Talmon Marco, foi
chefe de comunicação das forças armadas israelense. Lá, ele iniciou o
desenvolvimento de um sistema de comunicação de mensagens e voz, em parceria
com alguns de seus antigos sócios.
De quartéis, laboratórios e centros
de pesquisa de Israel têm saído inovações que estão revolucionando não apenas
as áreas de comunicação e informática, mas também a agricultura, a medicina e
outras áreas de conhecimento. Para mais informações sobre outros casos de
inovação provenientes de Israel, recomendo o site http://nocamels.com/.
Fonte:
Revista Pequenas Empresas, Grandes Negócios
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