Senado discute aposentadoria especial para missionários religiosos
A necessidade de proteção
previdenciária para missionários religiosos foi discutida, nesta segunda-feira,
na Comissão de Direitos Humanos (CDH) do Senado. O senador Telmário Mota
(PDT-RR) havia apresentado um projeto para regulamentar essa atividade,
incluindo a aposentadoria, mas o retirou para aperfeiçoamentos.
Segundo o
senador, o trabalho social prestado pelos trabalhadores da fé precisa ser
reconhecido, valorizado e protegido pelo Estado, talvez até com uma
aposentadoria especial. A audiência pública buscou coletar informações e
subsídios para melhorias ao seu texto.
"Vamos
montar um grupo de trabalho, para não deixar que as sugestões fiquem no vazio,
e possam se transformar numa proposta concreta", disse o senador, que
presidiu a reunião.
Autônomo
O diretor
do Departamento de Regimes Geral de Previdência Social do Ministério da
Previdência, Emanuel Dantas, explicou que os ministros de confissão religiosa
são equiparados, no INSS, aos trabalhadores autônomos. Eles devem ser
obrigatoriamente filiados à Previdência Social, já que realizam uma atividade
remunerada. Mas fica dispensada a contribuição patronal de 20% sobre o salário
do religioso.
Essa
filiação pode ser exercida de duas formas: pelo plano tradicional, é pago 20%
sobre qualquer valor que varie entre o salário mínimo (atualmente, R$ 788) e o
teto dos benefícios pagos pela Previdência (R$ 4.600); ou como contribuinte
individual, pagando 11% sobre o salário mínimo e tendo como benefício esse
montante, quando alcançar a idade mínima (60 anos para mulheres e 65 para
homens).
Dantas
também apresentou dados sobre o perfil dos ministros de confissão religiosa, de
acordo com a Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios 2013. São cerca de 120
mil em atividade, entre homens e mulheres, com idade variando entre 16 e 59
anos. Desse total, mais da metade, 50,4%, contribuem regularmente à
Previdência. Do restante, 33% tem capacidade contributiva, ou seja, recebe
remuneração acima do salário mínimo, mas opta por estar fora da proteção
previdenciária do Estado. O total de ministros religiosos que não tem
capacidade contributiva, que recebe menos de um salário mínimo, é de pouco mais
de 16 mil.
Acima de
60 anos, são 21,6 mil ministros de confissão religiosa elencados pela
Previdência, dos quais 14 mil estão protegidos, ou seja, 65% do total são
beneficiários do INSS. Fazer com que os outros dois terços desses idosos sejam
protegidos pela Previdência Social é um grande desafio, disse Dantas.
Ele
explicou ainda que a entidade tem um programa específico para esclarecer
dúvidas sobre os benefícios previdenciários, chamado Programa de Educação
Previdenciária (PEP). A convite, a entidade dá palestras e presta
esclarecimentos aos interessados.
Auxílio fraterno
Durante
os debates, ficou clara que a situação dos pastores evangélicos é mais
preocupante, já que a igreja católica, por meio de suas confederações e
dioceses, tem mais bem organizadas as contribuições à Previdência Social.
"Isso
garante a padres, freiras, e bispos cidadania e uma velhice tranquila, conforme
as regras do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS)", afirmou
Leonardo Steiner, secretário-geral da Confederação Nacional dos Bispos do
Brasil (CNBB).
Além da
aposentadoria, salientou Dom Leonardo, a Igreja criou um fundo chamado “auxílio
fraterno” para ajudar, seja em forma de contribuição mensal ou mais esporádica,
em intervenções cirúrgicas ou na contratação de acompanhantes de idosos, aos
religiosos que trabalharam em obras sociais, mas as exerceram “de maneira
pobre”, sem se preocupar com benefícios previdenciários ou plano de saúde.
A falta
de informação sobre as obrigações previdenciárias, especialmente por parte dos
pastores de pequenas igrejas, foi apontada pelas lideranças evangélicas como o
principal empecilho à formalização da aposentadoria dos representantes das
igrejas protestantes.
"O
pastor não sabe que pode contribuir", alertou Josimar da Silva, presidente
do Conselho de Pastores Evangélicos do Distrito Federal.
Mas, além
disso, na opinião do presidente da Associação das Missões Transculturais do
Brasil (AMTB), Cassiano Batista da Luz, o governo precisa reconhecer o papel de
missionários e religiosos em todo o Brasil, com sua atuação “essencial” onde o
Estado é ineficiente, como no atendimento a indígenas e usuários de drogas, por
exemplo.
"Faz
sentido uma inovação legislativa que reconheça aposentadoria especial aos que
se dedicaram a vida toda a esse trabalho", defendeu, no que foi apoiado
pelos que assistiam à audiência pública e pelo senador Telmário Mota.
Cassiano
também criticou o senso comum de dizer que ser evangélico tornou-se um bom
negócio e acusou a imprensa de só dar destaque aos “estereótipos” de pastores
que demonstram riqueza. Muitos não têm condições financeiras para se tornarem
segurados da Previdência, observou.
Fonte: Folha Gospel
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