Conhecido como um dos mais contundentes movimentos políticos do
Brasil, o Movimento dos Sem-Terra (MST) tem vivido recentemente uma grande
mudança em suas fileiras de militantes. Segundo levantamento feito por
sociólogos, o movimento tem tido um número cada fez maior de evangélicos entre
seus membros, que dividem entre devoção religiosa e militância política pela
reforma agrária no interior do País.
Como apontado pela revista IstoÉ, a luta pela reforma agrária no
Brasil tem em sua origem um forte DNA religioso, sobretudo devido a grupos da
Igreja Católica, que há 40 anos se posiciona sobre o tema por meio da Comissão
Pastoral da Terra (CPP). Porém, a presença de cristãos protestantes no
movimento é recente.
A crescente presença de denominações evangélicas nos
assentamentos no MST tem chamado a atenção de vários pesquisadores que estudam
a relação entre religião e reforma agrária, como o sociólogo Fábio Alves
Ferreira, autor de “Pentecostais e a luta pela terra no Brasil – deslocamento e
equivalências entre identidades religiosas e agentes sociais em assentamentos
de reforma agrária”, apresentado como tese de doutorado na Universidade Federal
de Pernambuco.
- Trata-se de um novo agente religioso que reivindica políticas
sociais para o desenvolvimento rural – afirma Ferreira.
A adesão de um número cada vez maior de evangélicos,
principalmente pentecostais, ao MST causa espanto em muitos pesquisadores. Este
espanto se dá principalmente pela visão defendida por muitos desses estudiosos
de que a teologia pentecostal costuma enfatizar uma espiritualidade mais
individualista e menos coletiva.
Porém, essa visão da teologia pentecostal não é unanime, como
defende a socióloga Marluse Maciel, que refuta uma visão unilateral que pesa
sobre os evangélicos.
- Acham que [os evangélicos] são apáticos à política e
vulneráveis a opiniões externas. Mas participam de movimentos sociais e ocupam
terras – afirma Maciel, autora de uma tese de doutorado da Universidade de São
Paulo (USP) sobre as relações entre os movimentos sociais e as religiões em dois
assentamentos paulistas.
Segundo os estudiosos, os evangélicos têm assumido papéis de
liderança nos assentamentos e conseguem se dividir entre os compromissos
religiosos e a militância política. Um exemplo é Elisabeth de Oliveira Costa,
de 41 anos. Fiel da igreja Assembleia de Deus, ela está no MST há cinco anos e,
após fazer um curso de militância, faz parte da equipe de educação do
acampamento Luiza Ferreira, em Moreno, região metropolitana do Recife (PE).
- Sou socialista, mas antes morria de medo dos sem terra. A vida
melhorou muito. Como o que planto e colho – afirma a militante.
Um dos fatores apontados para o crescimento do número de
evangélicos nas fileiras do MST é o crescimento da presença das igrejas
evangélicas no meio rural. O censo divulgado pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) em 2010 apontou o número de 4,4 milhões de
evangélicos em zonas rurais, cerca de nove vezes mais do que o registrado dez
anos antes.
Os sociólogos apontam também uma suposta mudança na
interpretação da Bíblia por parte dos evangélicos que abraçaram a luta do MST.
Ferreira afirma que ao interpretar a “Bíblia” pelo próprio olhar e não mais
pelo viés do líder religioso, esses militantes tentam se livrar do “pecado” de
estarem tomando o que seria de outra pessoa.
- Quando Deus criou o mundo, deu terra para todos. Ele não
queria que um grupo morasse na favela – afirma a militante Elisabeth, em uma
das reinterpretações apontadas pelo sociólogo.
Fonte: Gospel Mais
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